22 outubro 2007

Negligências

Eu bem tento manter um ritmo de escrita coerente e dar ao Mise en Abyme a animação que ele merece. Mas não consigo. Há quem me acuse, e com razão, de ser uma "cinéfila desleixada" mas é mais forte do que eu. Não que a minha vida não continue a ser dedicada quase inteiramente ao cinema. E claro que gostaria de ter a ligeireza de outros e andar para aqui a partilhar todos os meus pensamentos com os leitores. Se assim fosse, podia dizer-vos que passei os últimos dias a digerir o artigo que o João Lopes escreveu na despedida da PREMIERE. Não simpatizo com o crítico e não tenho paciência para a sua faceta de argumentista mas fiquei contente de o ler sobre o The Good Shepherd que, tal como demonstrei aqui, é um grande filme. Também podia partilhar convosco que perdi a vontade de reflectir sobre o Fassbinder e o Bresson há mais de um ano e que, ultimamente, só me apetece reflectir sobre o Judd Apatow. Interessa-me o rumo da comédia, agradam-me aqueles actores. Fui ver o Knocked Up e senti-me tão bem. O cartaz do Eternal Sunshine, o ska dos Sublime, o power do Toxic, o "meu" Raymond. Aquilo também é o meu mundo.
Depois, no meio de todos estes pensamentos, vem o Carnivàle. Gostava de ter sido mais paciente. Palavra que sim. Gostava mesmo de ter sido mais organizada ao ponto de ver apenas um episódio por dia, ou por semana. Assim, prolongaria por mais tempo o prazer único que é ver uma série extraordinária. Agora, bebendo tudo de forma sôfrega, sinto-me só. Sem eles. Refiro-me aos freaks, à mulher com barba da canção da Adriana Calcanhotto - Com o que será que sonha A mulher barbada?. Terra e mais terra, poeira, vento, trabalhar sem ganhar um tostão. Viver dia a dia, temos de cumprir o código. Sem o código não nos sobra nada.
E ainda podia escrever que aquilo que me apetece mesmo é faltar ao trabalho e enfiar-me no cinema a ver os novos filmes do Christophe Honoré e do Robert Rodriguez e até mesmo os Fados do Saura. Mas enfim. Talvez não tenha feitio para partilhar pensamentos. Se calhar, a vida do Mise en Abyme está a chegar ao fim. Vou ter com a Shirley MacLaine e perguntar-lhe o que ela acha.

09 outubro 2007

She's lost control

Confusion in her eyes that says it all.
She's lost control.
And she's clinging to the nearest passer by,
She's lost control.
And she gave away the secrets of her past,
And said I've lost control again,
And a voice that told her when and where to act,
She said I've lost control again.
And she turned around and took me by the hand and said,
I've lost control again.
And how I'll never know just why or understand,
She said I've lost control again.
And she screamed out kicking on her side and said,
I've lost control again.
And seized up on the floor, I thought she'd die.
She said I've lost control.
She's lost control again.
She's lost control.
She's lost control again.
She's lost control.
Well I had to 'phone her friend to state my case,
And say she's lost control again.
And she showed up all the errors and mistakes,
And said I've lost control again.
But she expressed herself in many different ways,
Until she lost control again.
And walked upon the edge of no escape,
And laughed I've lost control.
She's lost control again.
She's lost control.
She's lost control again.
She's lost control.

Joy Division

Bigger than life


08 outubro 2007

Londres - terceiro filme

O Francisco tem muita razão quando refere que Control (2007) é um filme brilhante. Acabo de o ver, num cinema de bairro, em plena Baker Street.

O trabalho interpretativo de Sam Riley não me sai da cabeça. Movimentos de braços tão soltos, tão sinceros. Olhos tristes, constantemente molhados. Uma cabeça que não pára de sofrer. Um corpo em constante colapso. Uma incapacidade de lutar contra os desaires da vida, um medo tão grande de não conseguir suportar. Um filme espantoso. Perfeito desde o princípio até ao fim. É claro que esta película é também um tributo a Ian Curtis e aos Joy Divison, vindo de quem os acompanhou durante a sua curta existência. E tudo a preto e branco, como convém. Ninguém me tira da cabeça que a vida é mais bonita a preto e branco.

Imprescindível.


Fotografia dedicada à Marianne.

02 outubro 2007

Londres - segundo filme

Esta manhã fui acordada por uma senhora do Paraguai. Entrou pelo quarto adentro e disse-me "Muy linda! Eyes very beautiful!". Levantei-me completamente estremunhada e lembrei-me da empregada do Paris, Texas que tenta ajudar o protagonista a vestir-se como um "pai rico". Fui até à janela e chovia. Por uma vez, não me apeteceu enfrentar a chuva. Fiquei aqui dentro quentinha, no meio de Marylebone, a um passo da rua do Sherlock Holmes.
Peguei no segundo filme que trouxe comigo, o já citado Paris, Texas (1984) de Wim Wenders, e deixei-me ficar. É sempre tão engraçado rever Dean Stockwell - o senhor da minha infância que viajava pelo tempo em Quantum Leap.
Desta vez, sofri muito a ver o filme de Wenders. A beleza perdida de Nastassja Kinski, o medo de Harry Dean Stanton e, uma vez mais, a Família. Num tom e tempos tão certos, tão deliberadamente verdadeiros, dando espaço para que as personagens se manifestem. Um filme sobre a Dor mas também sobre o Amor enquanto é sinónimo de felicidade.

Secretário de Estado do Ambiente